terça-feira, 9 de outubro de 2007

Não fale Deus connosco para que não morramos...



Neste intervalo metafísico dos feriados que nos dão ponte e antes de comemorar o dia mundial do pão de forma, pus-me a consultar o Exodus e outros bíblicos textos, entre os sete pecados capitais, com a luxúria, a avareza, a gula, a soberba, a inveja, a ira e a preguiça, e os dez mandamentos, na versão mosaica.




E lá recordei, de forma ascendente, que não podemos cobiçar coisas alheias, incluindo a mulher, a casa, o boi ou o servo do próximo, ou o marido da próxima, tal como não podemos levantar falsos testemunhos ou furtar, nem atentar contra a castidade por palavras e actos, além do não matar, do honrar pai e mãe e do lembrarmo-nos do dia de sábado. Fiquei pelos dois primeiros, do reconhecermos o senhor nosso Deus que nos livrou do faraó fascista, e do não podermos fazer imagens Dele, nomeadamente caricaturas dos seus profetas.




Deus, em sua grande misericórdia,disse: " Prestem atenção: vou fazer cair pão do céu. Todos os dias, vocês se levantarão e recolherão os pães". E foi o que aconteceu; os israelitas chamaram aquele pão de "maná". Deus também providenciou água para o povo.




E não percebi como alguns aplicam esse primeiro preceito do Decálogo às pequenas bizarrias do quotidiano, transcrevendo em calão, o não me venhas pedir satisfações, porque isso poderia abrir as portas aos dramas relacionais lá das alturas, com as vestais. Porque tudo quanto o chefe diz é lei das leis e também Ele não está sujeito à própria lei que dita em sua fábrica. Talvez porque no Exodus, lá vem um aviso: "não fale Deus connosco para que não morramos..."




Logo depois, os israelitas acamparam em volta de um monte, no deserto do Sinai. De repente, houve trovões e relâmpagos no monte; uma nuvem espessa apareceu, e ouviu-se o som de uma trombeta - um som tão alto que o povo estremeceu. E o Senhor, envolvido em fogo, desceu ao monte, e o monte inteiro tremeu.




Agora Deus não troveja nem relampeja, apenas está no meio da mesa. A não ser quando os servos do Senhor o interpelam e se esquecem que Ele lhes pode fazer a folha de parra, decepar-lhes os membros que os fazem locomover, arruinar-lhes a vidinha e proclamar-lhes o nunca mais serás ninguém. Só que Deus não fala em português, nem com pronúncia. É profundo demais para ser relatado em latim vulgar e até pode confundir-se com os falsos ídolos que levaram em cima com as pétreas tábuas da lei, com vírgulas e frases postas em comissão discreta, além da pontuação que, até então, era correcta, porque tinha um ponto final, sem intervenções insulares, eventualmente insolentes.




Deus mandou que Moisés subisse ao tope do monte e disse-lhe o seguinte: "Eu sou o Senhor seu Deus. Fui eu que o tirei da terra do Egito; que o libertei da escravidão". E enquanto falava, o Senhor escrevia os Dez Mandamentos numa tábua de pedra.




Por mim, lá fui, de pão de forma, deserto acima, a caminho da terra prometida, com Badajoz à vista, para, na curva de um qualquer chaparro, poder esperar a queda do maná. Ainda estou à espera, porque, com esse panífero produto, entrarei definitivamente no reino dos que não têm que aturar estadões em figura humana, ao cair do pano, depois da música celestial dos anjinhos papudos e póstumos. Juro que não foi nesta dita cuja, em busca da "lingerie", que me locomovi, como insinua a governanta, em cobardes cartas de denúncia.



Homem do pão, ainda sem recolher maná...

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