Eu já suspeitava que esta coisa da democracia europeia e nacional tinha mistérios que não estava ao alcance do cidadão comum desvendar. Agora, com a aprovação do chamado Tratado Europeu desapareceram-me as últimas dúvidas. E mais: cheguei à conclusão que o simples acto de votar torna o povo estúpido.
Antes das eleições, durante as campanhas eleitorais, ao ouvido durante o período de reflexão, os iluminados políticos candidatos não se cansam de afirmar que o eleitor é inteligente e que o povo é sábio e nunca se engana. Mas, mal o cidadão anónimo deposita o seu voto na urna, passa a ser um ignorante, incapaz de compreender as leis, os programas e os projectos que os seus eleitos lhe preparam. O povo deixa de saber o que quer. Transforma-se, de um momento para o outro, durante mais quatro anos, numa imensa massa de ignorantes que precisam de ser tutelados.
A prova definitiva veio agora com o chamado Tratado Europeu. Os tratantes (pessoas que tratam destes tratados) fizeram-no, aprovaram-no, não o mostram a ninguém e não querem ouvir falar em referendá-lo, como esperaria qualquer ingénuo democrata. Dizem que ele é demasiado complexo para o entendimento dos eleitores, do povo. Ou seja, o povo é demasiado estúpido para que lhe seja permitido opinar sobre as matérias que que implicam com a sua vida e com seu futuro.
Salazar tinha a mesma opinião sobre esta bizarria de eleições e consultas populares. Eleições sim...mas só com a participação de eleitores previamente aprovados. O princípio agora utilizado com o Tratado Europeu é muito semelhante. Apenas diminui drasticamente o universo dos eleitores aprovados. São apenas 230.
Curvo-me às evidências. O povo parece de facto estúpido. Caso contrário não tinha eleito estes tratantes.
Resta-me ainda uma dúvida: e se o povo, afinal, não é tão ignorante como os tratantes pensam e resolve, na próxima oportunidade, tratar deles?
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
O Tratado e os tratantes
à(s)
15:22
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