domingo, 18 de novembro de 2007

"Vocês podem dizer: 'Este David Lynch é maluco, mas vamos lá experimentar, a ver o que sucede'."


Durão vem agora confessar que foi enganado pelos espiões por ocasião da invasão do Iraque. E assim lava as mãos como Pilatos, porque graças a todos esses equívocos não foi ele o bombardeado e sempre há água benta que tira o mau cheiro a águas chocas. David Lynch vem ao Estoril apelar à meditação transcendental e a ASAE fecha a Ginjinha do Rossio, enquanto Luís Filipe de Menezes apoia a passagem de Almerindo Marques para as Estradas de Portugal, apesar de muitos andarem a promover a candidatura do gestor do regime a presidente da ASAE, dado que importaria encerrar o estabelecimento da República Portuguesa, SARL, depois do que temos ouvido de Catalina Pestana, Maria José Morgado, Alípio Ribeiro e Pinto Monteiro. Os tais que aparecem nos telejornais dissertando sobre as vírgulas do Código do Processo Penal, o combate ao terrorismo pela rectaguarda e o excesso de escutas da telemóveis não encostados a aparelhos de televisão.

Porque o Sporting levou três do Braga. O Porto levou dois do Estrela nos últimos cinco minutos do jogo. E o Benfica esqueceu-se do Celtic, graças às circunstâncias pouco loureiras do Boavista. Para que João Soares apoie Chávez, contra Juan Carlos e o Opus Dei dê razão a Bento XVI, no seu puxão de orelhas ao nosso esquema clerical. Vale-nos que a Judite já prendeu o bando do "aperta o papo", que a tasca da Badalhoca no Porto ainda vende pestiscos de dobrada e que ainda há restos de sol de Verão.


Vale-nos que lá para os lados da terra de Bandarra, o Gonçalo Annes, apareceram uns apitos douradinhos, apanhados em flagrante sem ser de litro, enquanto a Ordem dos Médicos se recusa a alterar o respectivo código deontológico por causa da nova lei da IVG. Por seu lado, Pedro Namora diz que não falou com a directora Madeira da Casa dita Pia, porque esta foi nomeada por um ministro que é amigo de dois anteriores ministros que o irritam. Já em Aguiar da Beira um cidadão morreu intoxicado por arsénio que circulava impune na água da rede pública.


A Televisão, nos intervalos, vai transmitindo cenas do balneário da nossa selecção, com toda ela mobilizada por orações onde Scolari apela à virgem de Fátima. Talvez por isso é que os ditos se fiaram na mesma e não correram contra a Arménia, a tal terra esquisita donde nos veio o Charles Aznavour e o senhor Calouste Gulbenkian. É por isso que vale a pena notar o que o nosso consócio Lynch veio dizer ao Estoril:


Estava previsto queo cineasta dedicasse meia hora a uma conferência de imprensa, e depois uma hora a uma masterclass sobre 'A Arte, a Vida e a Meditação Transcendental'. Só que, na conferência de imprensa, Lynch falou quase todo o tempo sobre MT, e decidiu transformar a masterclass numa sessão de perguntas e respostas, em que se falou de cinema, da vida, de Inland Empire e Mulholland Drive, os seus dois últimos filmes, da série Twin Peaks... e de MT, sempre que se proporcionava.


Segundo Lynch, a MT "não é uma religião. É uma técnica de meditação que abre as portas que nos levam ao mais profundo dos estados da consciência". isto porque "estamos na superfície da vida, todos temos consciência, mas nem todos temos o mesmo nível de consciência". Ao praticarmos a MT - descrita por Lynch como "uma claridade doce e eléctrica, que traz ondas de felicidade" - podemos atingir não só o já referido "oceano de consciência sem limites", como também a "paz real". Que o realizador define não como "a ausência de guerra, mas como a ausência de negatividade, que contém as sementes da guerra".


Lynch pensa ainda que a MT é também "dinheiro no banco para os artistas, e a sua ferramenta número um". E porquê? Porque "traz mais criatividade, felicidade e disponibilidade, e afasta a negatividade, que é como veneno para os artistas".


Transcendência, consciência e negatividade à parte, David Lynch revelou que as ideias para os filmes lhe surgem sempre "em fragmentos", disse que "depois de ter descoberto as câmaras digitais em Inland Empire, ficará doente se tiver voltar a rodar outro filme em celulóide", frisou que o cinema "não é só uma coisa intelectual, é também uma coisa da intuição", aconselhou os aspirantes a realizadores a serem "sempre fiéis a eles próprios, nunca aceitarem um não como resposta, nunca abdicarem do final cut e nunca rejeitarem uma boa ideia", e profetizou que a Internet "será a casa de tudo no futuro, se se resolver o problema da pirataria". E antes de rumar ao aeroporto, foi à Aldeia SOS de Bicesse hastear uma "bandeira da invencibilidade" da MT, ao som do Hino Nacional.


O Homem do Pão






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