quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O tal peixe

Pode parecer-lhes estranho, mas eu já vi o tal peixe, como vocês lhe chamam, embora pense que não se trata verdadeiramente de um peixe. É certo que tem barbatanas, mas não tem espinha, que é nos peixes o equivamente à coluna vertebral dos humanos. A mim parece-me mais um molusco daqueles mais feiosos. Também pode ser peixe da fdamília do tamboril.

Estranho é que vi o peixe fora de água, pelo menos a uns 200 metros do rio Tejo. E não estava sozinho. À frente dele, todos alinhados, havia um cardume de outros peixes, suficientemente grande para justificar a qualquer pescador lançar a rede de arrasto nestes tempos de escassez de recursos. Eram pelo menos uns 230.

Tudo isto é muito misterioso. Outras pessoas que também viram garantem-me que o cardume tem um número sempre diferente de peixes, mas nunca mais de 230. Porquê este número? Que fazem estes moluscos em terra? Serão mutantes?

Mais intrigante ainda: o peixe fala. Não sei se será mesmo falar, porque diz sempre as mesmas palavras: "acabou o tempo". Os outros peixes ouvem. Meia dúzia deles dizem qualquer coisa que não se entende bem. Os outros, uns abanam as barbatanas outros dão rabo em movimentos ritmados.

E não é que o peixe grande conta as barbatanas que abanam para um lado e as que abanam para o outro?

Já viram coisa mais estranha? Deve significar qualquer algo que ultrapassa a minha imaginação.

Fiquei a pensar naquilo de "acabou tempo", "acabou o tempo", "acabou o tempo" tipo disco de vinil estragado. Ocorreu-me então que o peixe grande teria um limite de tempo para regressar á água. Neste caso só podia ser o Tejo. Como aqui no blog, a descrição científica diz que é um peixe de águas profundas fiquei um tanto confuso sobre as origens e o habitat natural do monstro.

A patroa está sempre a criticar o meu nomadismo incessante esquecendo-se que ele me obriga a ter meios que nem toda a gente tem. Desta vez o que me serviu foi um grande mapa do mundo que adquiri numa das minhas itinerâncias e que assinala a profundidade dos mares. Foi só seguir as indicações e descobri no meio do Atlântico a caminho da América umas fossas marinhas com vários quilómetros de profundade.

Não havia dúvidas. Era ali o habitat do peixe grande e feioso.

Subsistem, porém, dois mistérios que não consigo descobrir: como é que o peixe veio cá parar e o mistério do cardume dos 230.

Isto é muito aliciante para quem gosta de mistérios como eu e, como não quero ficar atrás do José Rodrigues dos Santos e de vários outros, já pensei em escrever um romance sobre o tema.

Para já ainda só tenho o título: "Código 230 - acabou o tempo".

Coronel

1 comentário:

Anónimo disse...

Fnatástico post! É um gosto servir patrões como o Senhor Coronel que tem tanto saber. A minha condição de Miudita não me permite prerorar socraticamente que nem uma sofista sobre o raciocínio expendido, restando-me simplesmente dar os parabéns e agradecer ao Senhor Coronel pela sua magnífica escrita.
Miudita